Flechas dos tipos emocionais do Eneagrama

Flechas dos tipos emocionais do Eneagrama

Após pouco mais de quatro meses, estou finalizando uma série de textos que venho publicando sobre o Eneagrama. Nesses últimos tenho falado das flechas. Há quinze dias expliquei o funcionamento delas e das asas e, na semana passada, falei das flechas dos tipos instintivos do Eneagrama. Neste texto vou falar das flechas dos tipos emocionais do Eneagrama, os que estão no centro de inteligência da emoção.

Vale lembrar que cada eneatipo tem quatro pontos de contato muito importantes para o seu movimento de crescimento: duas asas e duas flechas. E que, de acordo com a perspectiva do Eneagrama, o tipo de cada pessoa é imexível – quem nasce eneatipo 4 para sempre será tipo 4. Entretanto cada pessoa pode se desenvolver num processo de evolução, pelas suas asas, ou de revolução, que é o caminho por meio das flechas.

Caso o indivíduo não esteja consciente do seu tipo de personalidade e das características das suas respectivas asas e flechas, o processo pode tomar o caminho da involução. Assim, ao invés de desenvolvimento, o sujeito vai mergulhar nos vícios emocionais e comportamentais dos eneatipos para os quais suas flechas apontam.

 

Flechas do tipo 2

Como já mencionei no texto sobre as asas e flechas do Eneagrama, o Doador, eneatipo 2, tem suas flechas direcionadas para o Individualista e o Desafiador, respectivamente tipos 4 e 8.

Quando inconsciente do seu caminho de crescimento, o medo da rejeição do Doador tocará a tendência à tragédia do Individualista. Assim, encontraremos um tipo 2 com comunicação muito dramática, exagerada e exacerbadora dos problemas. O eneatipo 2 que inconscientemente caminhou rumo ao eneatipo 4 vai se encontrar perdido e carente, tendendo a entrar no modo “lamúrias e queixas”.

Mas quando consciente do seu caminho de desenvolvimento, o Doador buscará a profundidade do Individualista, desenvolvendo uma capacidade de se ver, se olhar, se sentir. Esse processo o levará a um mergulho na sua vida e o permitirá sentir suas dores. Assim, finalmente conseguirá chorar por si mesmo.

A rota do tipo 2 rumo ao Desafiador, quando feita de forma inconsciente, o colocará sob o risco de absorver o comportamento controlador e manipulador do eneatipo 8. Associada à tendência natural do tipo 2 em fazer para receber de volta, esse contato com o controle – derivado da raiva do instintivo eneatipo 8 – poderá descambar para um Doador agressivo nas cobranças.

Contudo, num caminho consciente de crescimento, o eneatipo 2 compreenderá que é abraçando e acolhendo as próprias fragilidades que se descobre realmente forte. Acessar a Inocência, a virtude do Desafiador, permitirá ao tipo 2 desenvolver segurança e capacidade de estabelecer limites, dizer “não”. Esse eneatipo 2 usará a sinceridade nas suas relações sem necessariamente precisar adular as pessoas.

 

Flechas dos tipos emocionais do Eneagrama: as do Realizador

O tipo 3 do Eneagrama tem suas flechas direcionando-se para os eneatipos 6 e 9, respectivamente o Cético Leal e o Mediador. E quando caminha inconscientemente na direção do tipo 6, o Realizador vai sentir sua disposição para execução se confrontando com o temor pelo futuro do eneatipo 6. Perde a disposição para execução e, no cenário que se coloca, encontraremos um tipo 3 bem diferente: tomado por um medo generalizado, que duvida até dos seus pensamentos e posições. Esse caminho pode levar o Realizador a uma grande paralisia.

Entretanto, se consciente do seu caminho evolutivo, o medo do Cético Leal vira receio no Realizador e o coloca um freio. Isso possibilita um eneatipo 3 que se indaga mais. Nesse processo ele muda o ritmo de correria e vai despressurizando devagar, aos poucos. Quando está nessa rota, o Realizador abraça mais a dúvida e torna-se mais receptivo a ideias e processos.

No caminho rumo ao Mediador, de forma inconsciente, o tipo 3 toca a Procrastinação, o vício emocional do eneatipo 9. Nesse contato, o Realizador estabelece em si um dos seus maiores conflitos: “como, se funcionando como uma máquina sem desligar, me vejo procrastinando”? Encontrar-se nessa situação colocará o eneatipo 3 em estado de choque, desnorteado. Isso o levará à dispersão, divagando sem objetividade e podendo o colocar num estado de auto rejeição, inércia e paralisia – que pode ser difícil de sair.

Todavia, se a rota em direção ao eneatipo 9 é feita de forma consciente, o tipo 3 baixará a prioridade do “fazer” e dará mais prioridade ao “ser”. Essa troca permitirá ao Realizador desenvolver interesses nas pessoas, nos processos e ficar mais atento às opiniões do outro.

 

As flechas do Individualista, o eneatipo 4

O tipo 4 do Eneagrama tem suas flechas apontadas para o Perfeccionista e para o Doador, respectivamente eneatipos 1 e 2. Ao caminhar inconscientemente rumo ao tipo 1, o Individualista pode desenvolver sensações e comportamentos quase opostos à sua natureza. Ao invés de fruir os sentimentos, reprime. Isso pode torná-lo uma pessoa fria, que acaba utilizando das emoções para atacar as pessoas. Além disso, a rigidez de julgamento do Perfeccionista num eneatipo 4 inconsciente pode torna-lo detalhista e controlador. Basicamente um chato.

Mas se caminha de forma consciente rumo ao eneatipo 1, o Individualista vai encontrar na peculiar organização do Perfeccionista, algo que precisa muito: organização. Relativiza um pouquinho as emoções e extrai benefício da disciplina, desenvolvendo uma postura mais assertiva.

Numa rota inconsciente em direção ao Doador, o tipo 4 vai entrar no modo adulação. No afã de tentar ler e atender, o tempo todo, a expectativa do outro, trocará sua doçura e autenticidade por estratégias dissimuladas de conquista e sedução.

Entretanto, se estiver consciente do seu movimento, o eneatipo 4 vai ingressar no processo mais enriquecedor para o seu desenvolvimento: o contato com o outro. Essa flecha, se usada de forma consciente, serve de “trampolim de fundo do poço”, fazendo o Individualista emergir do seu buraco emocional já olhando – e mais importante, enxergando – o outro e os outros. A aproximação com o Doador vai lhe facilitar experimentar lados agradáveis de suas emoções. Especialmente algumas fundamentais: empatia, solidariedade e compaixão.