Tipos mentais do Eneagrama
Na última quinzena, dediquei-me a apresentar aqui no site os tipos do Eneagrama de acordo com os seus respectivos centros de inteligência. Há 15 dias, falei dos tipos instintivos, que integram o centro de inteligência do instinto. Na semana passada, apresentei os eneatipos emocionais, que “residem” no centro de inteligência da emoção. Neste texto apresentarei os tipos mentais do Eneagrama, fechando assim os 9 eneatipos.
Vale sempre lembrar que o Eneagrama é uma poderosíssima ferramenta de análise e desenvolvimento do comportamento humano. Ingressar no caminho do processo evolutivo com o Eneagrama pode promover a transformação do ser, mas exige mergulhar na análise dos centros de inteligência e de todas as outras “partes” do Eneagrama: tipos, subtipos, asas, flechas, virtudes, vícios emocionais… Por isso recomendo os textos que já publiquei aqui no site.
Mas neste texto, dediquemo-nos aos tipos mentais do Eneagrama!
Tipo 5: o Observador
Encontrar o tipo 5, o primeiro dos tipos mentais do Eneagrama, demanda uma busca muito cuidadosa. Provavelmente ele estará escondido num canto de si mesmo, num emaranhado mental, desenvolvendo sua mente brilhante no garimpo de mais e mais conhecimento e completamente afastado de seus sentimentos e emoções.
Concentrado em si mesmo, em seus interesses – exclusivamente seus –, o Observador nega o mundo exterior na esfera das emoções e volta-se totalmente para uma experiência reservada, no recôndito de seu ser. Ao se desconectar do mundo externo, em contrapartida, torna-se extremamente apegado ao que tem.
Sua privacidade, condição de existência para ele, lhe assegura a fuga desse ser assustador: o outro. Seu aspecto introvertido torna seu mundo limitante, restringindo-se à sua própria percepção da realidade.
Preso à condição de observador e muito pouco participante, o eneatipo 5 fica restrito a uma vida contemplativa, com grande escassez de troca. Seu refúgio, no entanto, lhe oferece conforto, raramente encontrado no convívio interpessoal.
É minimalista no que faz, fazendo uso escasso de recursos. E se isso é verdade no mundo material, muito mais o é no mundo emocional, onde é extremamente econômico de si mesmo. Sempre que possível bate de frente, privando-se das condições humanas geradoras do seu crescimento.
Avesso a ter muitos amigos íntimos, quando os tem é extremamente confiável e leal àqueles que concedeu essa exceção. Torna-se um privilégio contar com seu afeto, tão contido. No entanto, quando o faz, costuma ser alguém sutil, cuidadoso e que se dedica de forma ponderada.
Cético Leal, o segundo dos tipos mentais do Eneagrama
O eneatipo 6 é dotado de um radar que pisca 24 horas por dia, com sensor que avisa: perigo, perigo! O tipo 6 não tem medo disso ou daquilo. Ele tem medo; o perigo é iminente.
Essa condição é profundamente geradora de ansiedade. O Cético Leal tem uma capacidade antecipatória da catástrofe. Por isso se previne o tempo todo, sendo um grande planejador de soluções. Todas as alternativas e hipóteses são levantadas pelo seu famoso: “e se”?
O eneatipo 6 ampara-se dessa tensão num movimento de luta, de fuga ou na proteção dos amigos. Esses são raros, já que a desconfiança é um dos seus pilares na vida. Contudo, quando reconhece alguém como amigo, ele manifesta uma fidelidade primorosa. Diz-se que é daqueles que “esconde cadáver para os amigos”, que geralmente cabem num cercadinho, construído à sua volta. Para os amigos, tudo. Porém, se algum desses o decepcionar, jamais terá uma segunda chance: será sumariamente excluído da sua vida.
Parece que, na infância, o tipo 6 foi privado da sensação de uma “confiança básica”. Sem algum nível de fé e confiança em nosso ambiente, a sensação de desamparo cresce muito. O medo toma conta, podendo chegar a gerar paralisação.
A sensação de medo no homem, assim como no animal, está ligada ao instinto de sobrevivência: luta ou fuga. Isso vai gerar resultado em diferentes atitudes do Cético Leal:
- Luta – ele ataca; é o chamado contrafóbico
- Fuga – ele se encolhe ou paralisa; é o conhecido fóbico
Dado esse comportamento, sua relação com figuras de autoridade é ambígua, podendo apresentar comportamento mandão ou subserviente.
Não podemos esquecer da capacidade de planejar do eneatipo 6. Só que difícil para ele é decidir, já que é invadido por uma profusão de dúvidas: “e se, e se, e se”…
Na condição de sua melhor saída, o Cético Leal tende a ser um grande amigo, conselheiro, sábio, bastante ponderado e muito fiel.
Tipo 7, o Entusiasta: o último dos “residentes” do centro de inteligência da Mente
É grande o arsenal de qualidades do eneatipo 7: agradável, divertido, conquistador, pensador, criativo, inovador, flexível, otimista, amigável e energético. Um tremendo boa-praça multitudo.
Olhando superficialmente, o Entusiasta pode parecer alguém muito bem resolvido. Ativo, multitarefas, contador de histórias e piadas, bem-humorado… Mas mergulhando um pouco mais nessa personalidade, vamos encontrar alguém que busca em tudo e não acha em nada. É uma sede insaciável de prazer que muda de objeto, estímulo ou pessoa a cada instante.
O tipo 7 faz do entusiasmo, da alegria e do prazer, seus aparentes motivos da vida. Exatamente como uma criança ou adolescente que se recusa a crescer e retirar a venda da vida fantasiosa.
Assim, muda constantemente de foco. Seja no trabalho, lazer, esporte, estudo, pessoas. Parece alguém em permanente estado de fuga, que vai deixando tudo inacabado pelo caminho. Tudo isso está a serviço de ocultar seu lado sombrio da experiência humana: tem um medo absurdo de enfrentar a dor da separação, do envelhecimento e da mortalidade.
Faz parte da natureza humana a busca do prazer e a negação da dor. Isto nos conduz a um refúgio de uma vida sem emoções dolorosas. No entanto, nosso processo de crescimento dificilmente vai se desenvolver sem passar pela dor. A jornada da vida está presente desde o momento em que nascemos; nele já temos nossa morte anunciada. O inusitado é só a data. O Entusiasta terá que enfrentar muito das suas negações da dor para sair da superficialidade e se tornar o amigo estimulante, inspirador e dedicado que pode ser.
Neste texto eu fecho a descrição dos tipos a partir dos centros de inteligência. Mas não sem antes deixar um importante lembrete: conhecer o seu tipo pode ser o começo de uma grande aventura; a de tentar perceber os tipos dos demais e fazer disso um sábio poder de inter-relacionamento.