Quando o outro é valor
Ao longo das nossas vidas, cotidianamente, aprendemos a valorar. Lidar com valores, sejam eles de ordem monetária ou não, é parte do nosso dia a dia desde muito jovens. Aprendemos na infância ou, no máximo, na adolescência, o valor das coisas e o poder de compra necessário para adquiri-las. Nessa fase da vida, também aprendemos os valores humanos, os valores da moral e da ética.
O valor do mundo material é visível, mensurável, calculável e apesar das variações, possui abrangência global. Já o valor do mundo emocional pode ser invisível, desmesurado, imprevisível e de natureza subjetiva.
Alguns destes valores adquirem nuances culturais, mas ainda assim precisam de validação pela marca das nossas impressões digitais, nossas marcas únicas.
O que responder, então, à pergunta: quanto vale o outro?
Esse outro pode se tratar de pai, mãe, filhos, amigo, cônjuges, vizinhos e todas as variações de possibilidades das relações interpessoais. Mas e um outro qualquer, apenas um cidadão comum, ou talvez nem isso: um pária social.
Quanto vale o outro?
Considero a família um modelo de relação que propicia mobilizar o melhor das pessoas entre si. Claro que aqui estou me abstendo de Nelson Rodrigues e do mundo real. Refiro-me a uma concepção ideal de família que integra afetos e interesses.
Mesmo apreciando essa hipótese, há algo nas famílias, em especial, que me incomoda. Usemos a máfia como exemplo. Ela é um grupo voltado para família, em detrimento de todo o resto do mundo. A máfia acoberta e protege afetos e interesses até que estes valores – e o seu próprio poder – sejam ameaçados.
Considero nossas famílias burguesas um tanto mafiosas nesse sentido. O outro, fora de seu círculo (que pode até incluir alguns agregados) não interessa, a não ser para servi-los. Se pensarmos essa situação associando-a ao capitalismo atual e a influências diversas da contemporaneidade, veremos que a atual realidade é ferozmente excludente em relação aos menos favorecidos.
As 3 formas de olhar o outro
Agora voltemos à pergunta redigindo-a de outra forma: quando o outro é valor?
Há, pelo menos, 3 formas de olhar este outro: com indiferença, com identificação ou com empatia.
Na indiferença o outro pode até estar ali, mas para você ele não existe. Na minha opinião, a indiferença é a maior ameaça à humanidade.
Já na identificação, eu olho para o outro como se olhasse para um espelho. Há ali uma possibilidade de relação, desde que voltada para o que encontro de comum entre mim e ele.
Na empatia, eu preciso me despir de mim e criar espaço para esse outro. Preciso me sentir por meio dele, o que lhe acontece. Daí então eu posso voltar a mim e ser capaz de interagir.
Dadas essas três formas de alteridade, podemos criar pequenas equações matemáticas. Assim:
Na indiferença:
Eu ⊉ o outro (eu não contenho nem sou igual ao outro)
Na identificação:
Eu = o outro (eu sou como o outro)
Na empatia:
O outro + eu (eu sou com o outro)
Considero que o outro humano é o amor e acredito na ideia de que o amor é como um buraco: quanto mais dele se tira, mais ele cresce. E controvérsias do mundo monogâmico à parte, acho que essa premissa nos assegura uma riqueza infinita.
A distorção mais cruel da “poupança” do mundo individualista é ver uma grande operação de risco no ato de se dar. Economizar-se emocionalmente é pequeno, mesquinho e empobrecedor.
Obviamente que não estou me referindo a temperamentos. Certamente há pessoas mais contidas, fechadas, que exercem com mais dificuldade essa abertura. Isso é perfeitamente respeitável e trabalhável, quando necessário.
Falo do economizar-se como um modelo de comportamento excludente, egoísta e desumano.
Já na empatia, exercida associada à Consciência Crítica, busca-se o contrário. A procura é por fazer de nós pessoas mais ricas, poderosas e valorizando o outro. Só assim multiplico meu amor e, consequentemente, meu capital humano.