Grupos de crescimento

 

Trabalhos com grupos de crescimento tem o poder de extrair toda a humanidade contida em cada um de nós, agigantando-nos ao acessar a nossa essência e despertando o poder da empatia e da solidariedade.

Se pudesse resumir em uma palavra o que o trabalho em grupo proporciona, ela seria troca. E mesmo que num primeiro momento ela pareça não acontecer, o fio da história do grupo vai sendo puxado, tomando cada integrante como um ponto, até costurar uma rede de sentimentos e significados que vai servir de apoio para as discussões.

 

Um pouco da minha história nessa atividade

Meu histórico profissional atuando com grupos de crescimento vem de longa data. Já se passaram mais de 30 anos da minha primeira participação.

Na ocasião eu era gerente na área de RH da Telerj. Ouvi falar de um evento para funcionários da empresa. Minha curiosidade foi especialmente despertada quando fiquei sabendo que para realizar o trabalho, a companhia tinha selecionado de forma criteriosa, profissionais destacados de várias áreas de conhecimento, compondo assim uma equipe interdisciplinar. Aquela prática – que escapava aos modelos internacionais de desenvolvimento de pessoas em organizações que proliferavam na época – já prometia coisa boa.

Era um processo de 40 horas orientado por dois facilitadores. Assim que o grupo acabou, todos os participantes foram levantando e se despedindo. Eu não consegui. Fiquei paralisada por alguns momentos, como se alguém tivesse me colado na cadeira. Talvez percebendo isso, o casal de facilitadores veio até mim e me perguntou: “e aí?”.

“E aí? Daqui não saio, daqui ninguém me tira”, respondi. “Estou abrindo mão do meu cargo e quero fazer isso que acabei de presenciar pelo resto da minha vida”, continuei.

Para minha felicidade, recebi a melhor e mais carinhosa resposta possível: “nós viemos aqui exatamente para isso, para te convidar a se incorporar na nossa equipe”.

Se pudesse expressar em uma palavra o meu sentimento naquele momento, ela seria êxtase. A sensação foi a de sair de mim mesma. Senti-me ungida pela minha vocação. Aquilo que já buscava com tanto afinco veio ao meu encontro ainda tão jovem: trabalhar com pessoas, suas histórias, dores, medos, ousadias, descobertas, fugas, enfim… Tudo isso entrava no meu caminho da confirmação de que “nada que é do homem nos é estranho”.

Após um ano dessa fantástica experiência, período no qual eu tinha facilitado dezenas de pequenos grupos de supervisores ou gerentes da Telerj – totalizando mais de 500 pessoas – surge um novo desafio.

 

Uma experiência inusitada

Em pleno período de férias, quando deveria estar gozando de descanso com sombra e água fresca, começou uma das experiências profissionais mais significativas da minha vida. E ela logo de cara foi tão arrebatadora que resultou num imediato pedido de demissão – visto meio como incompreensível aos olhos de terceiros, já que eu estava trocando um emprego estável numa empresa sólida por algo incerto. Contudo, a minha vontade era mais forte que qualquer censura. O projeto em questão não era, para mim, apenas uma proposta. Era um chamamento.

Tratava-se de um projeto chamado Prisão Albergue. Implicava, inicialmente, num mês de convivência no interior do presídio, trabalhando com grupos de agentes de segurança, agentes de saúde e presidiários.

O que parecia ter um fim ali foi apenas o começo de um projeto muito grande, de grupos de crescimento com representantes de todas as partes envolvidas no sistema penitenciário do estado do Rio de Janeiro: grupos formados por diretores, por agentes penitenciários e encontros entre a direção e os presidiários.

Para mim, foi um período de crescimento exponencial, tanto profissional quanto pessoal. Os resultados do projeto geraram o convite, prontamente aceito, para assumir a direção de um presídio. Depois desse desafio veio a proposta para dirigir outro presídio e, finalmente, assumir a direção geral do Sistema Penitenciário, a atual Secretaria Estadual de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro.

Em todas essas instituições, apesar da posição executiva, jamais me afastei do trabalho com grupos – especialmente porque contava com uma equipe fantástica de voluntários.

 

Migrando os grupos de crescimento para as organizações

Findo o trabalho como Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, passei a realizar consultorias de desenvolvimento de equipes e de lideranças em diversas companhias. Foram muitas as empresas nas quais trabalhei, com grupos de crescimento muito diferentes – e que recebiam nomes como:

  • Desenvolvimento de relações interpessoais;
  • Desenvolvimento gerencial;
  • Grupos de ambiência organizacional;
  • Desenvolvimento de equipe ou;
  • Gerenciamento de Desempenho.

Cada uma dessas variações – e tantas outras que realizei ao longo da minha trajetória profissional – tinham suas especificidades. Contudo, jamais descuidei do pano de fundo – que ao mesmo tempo era o foco – daquelas atividades: o de promover o crescimento do grupo.

Logicamente que tanto no sistema penitenciário do Rio de Janeiro quanto nas empresas e organizações para as quais prestei serviço, corria-se o risco do processo de troca de sentimentos e significados no âmbito do grupo ocorrer de forma limitada. Ora, estamos falando de instituições que na época eram demasiadamente hierarquizadas, com longas e fortes cadeias de comando e controle. Eu não poderia partir de uma posição ingênua e acreditar que os assuntos mais importantes a serem discutidos surgiriam naturalmente. Então eu criava as condições para promover o crescimento do grupo, preservando impasses hierárquicos e todos os outros cuidados pertinentes.

O encontro do grupo era precedido por entrevistas individuais com 100% de sigilo em relação a “quem disse”. Em seguida, um diagnóstico referente ao que foi dito era produzido.

Munida dessas informações, eu abria os grupos também me abrindo. A transparência e fluência nessa apresentação eram elementos encorajadores de posturas autênticas. Na sequência, meu trabalho passava a ser o de monitorar o debate, cuidando para que exposições constrangedoras não fossem geradas.

O que percebia após esses trabalhos com grupos de crescimento era o de uma integração diferenciada. Não falo de joguinhos, mas de transparência verdadeira, exposição e elaboração de conflitos, tudo contingenciado por um clima de suporte extremamente saudável e cuidadoso.

Se pudesse definir em poucas palavras a evolução desses grupos, diria que os integrantes ultrapassavam o estado de medo e desconfiança para o de entrega e construção. Vi equipes que estavam prestes a desmoronar se reconstruírem num patamar de qualidade de vida muito significativo. Os depoimentos eram de mudanças tão fortes que tinham reflexos até em suas famílias. E a diversidade de empresas, estados e culturas só enriqueceu minha experiência.

 

Grupos de crescimento particulares

No consultório, reúno grupos pequenos de até dez pessoas. A oportunidade de praticar a empatia fica muito facilitada confidencialidade do ambiente intimista como o consultório.

As experiências foram poucas, mas não menos fantásticas.

A motivação de cada um pode ser um chamamento meu ou do próprio grupo, que me procura com uma temática ou questões comuns que desejam trabalhar. Geralmente todas as dinâmicas do grupo acontecem ao longo de um período que varia de quatro a doze meses. Nos encontros, vivenciamos exercícios de percepção, comunicação e feedback. O ganho gerado pelas discussões se potencializa enormemente dada a sinergia grupal.