Mecanismos de defesa dos tipos emocionais do Eneagrama
Na semana passada comecei uma pequena série de conteúdos sobre os mecanismos de defesa dos eneatipos – na ocasião, publiquei um texto sobre os mecanismos de defesa dos tipos instintivos do Eneagrama. Na sequência daquele texto está este, sobre os mecanismos de defesa dos tipos emocionais do Eneagrama.
Nunca é demais lembrar que, enquanto seres humanos, temos uma disposição persistente do organismo a agir de maneira organizada ou biologicamente adaptativa. Na perspectiva do Eneagrama, essa disposição é entendida como nossos instintos, forças que atuam no nosso inconsciente antecipando-se à razão e a emoção.
Quando nossos instintos começam a tocar nossa cognição e interagir com nossa dimensão comportamental, criamos mecanismos de defesa – estratégias automáticas que tem como função a defesa da própria personalidade.
Cada eneatipo vai necessitar de um mecanismo de defesa muito especial para suas características. As dores do tipo vão apontar para o tratamento que ele precisa.
Mecanismos de defesa do tipo 2
O eneatipo 2 padece do temor de não ser amado. Na dúvida de ser capaz de se tornar querido por si mesmo, o Doador pode cair na armadilha de buscar o que o outro quer que ele seja, abrindo mão de ser quem é.
Na medida que acredite que, para ser aceito tem que agradar o outro, passa a pisar em ovos, acautelando-se o tempo todo e buscando seguir a expectativa do outro.
O mecanismo de defesa da Repressão surge aí como forma de dissimular esse mal-estar. Ao receber atenção e interpretá-la como afeto, o tipo 2 tem grande chance de reforçar seu mecanismo de defesa, correspondendo ao que o outro espera e agradá-lo. E para garantir esse retorno, o Doador é capaz de abandonar suas próprias necessidades, ficando surdo para demandas internas – em outras palavras, reprimindo-as.
A possibilidade de ocorrer a Repressão coloca em risco o retorno da falta de amor – ou ainda pior, o desamor – colocando-o exposto a sua imensa carência.
Por meio de um processo terapêutico ou de coaching, o trabalho procurará pegar a contramão desse mecanismo de defesa. Por meio do autoconhecimento, a busca será para que o Doador o devolva a si mesmo. Ele precisa ser encorajado a entrar em contato com o próprio coração e ser capaz de refletir, por exemplo, sobre questões como:
- Neste momento, qual é o meu sentimento?
- Percebo algo em mim que precisa de cuidado especial?
- Onde está doendo? O que? Como?
- Que vontades, desejos e sonhos abandonei ou estou abandonando?
E é exatamente permitindo voltar-se para si mesmo, mergulhando em suas carências, dores ou traumas, que se inicia o tratamento do eneatipo 2.
Mecanismos de defesa dos tipos emocionais do Eneagrama: o do Realizador
De valor precioso e tão capaz, responsável por resultados extremamente bem-sucedidos… Mas sair desse estado para a fragilidade de não saber quem é? Exercício difícil para o tipo 3. Nunca é demais lembrar que sua grande dor é a desconexão de seu ser intrínseco.
Essa desconexão levou o Realizador, desde a infância, à busca de parâmetros de Identificação, que é o seu mecanismo de defesa. Para tal, precisou idealizar pessoas e ícones que poderiam lhe servir de espelho ou modelo.
Mas ao tentar aprofundar-se e corresponder a esses padrões de comportamento, numa busca incansável de admiração, aplausos e aprovação, o eneatipo 3 sempre corre o risco de se perder. Vem o medo de abrir mão de todos os padrões tão valorizados e, por trás da máscara, mostrar-se um ser vulnerável.
A maior armadilha do Realizador é mergulhar num falso-self, especialmente porque, nosso atual modelo de sociedade, ele é muito reforçado.
O mecanismo de defesa do Individualista
O eneatipo 4 funciona através das emoções. Depois de senti-las, ele vai olhar para o entorno. Tendo um coração supersensível, ele não se poupa da intensidade emocional. Recusa-se à um olhar ou interpretação superficial das pessoas, coisas ou natureza.
O mecanismo de defesa da Introjeção pode surgir para defender ou atacar o tipo 4. Quando atua de forma positiva ela reforça as fantasias e faz com que o Individualista as viva como se fossem reais. Dá vazão, assim, ao seu romantismo, resgatando emoções, saudades, sonhos e os vive ou revive como se fossem presentes e reais.
Mas essa situação se inverte quando a Introjeção atua de forma negativa. Nesses casos, o eneatipo 4 puxa e absorve a dor das profundezas, sendo seu próprio algoz, ampliando e multiplicando suas dores.
A terapia ou coaching para o Individualista não é nada simples. O processo de se desvencilhar de dores tão dilacerantes também machuca – e vai exigir muita delicadeza. Serão necessários confrontos entre o que é e o que não é realidade.
Entretanto, ao se permitir lidar de forma saudável com um arsenal de talentos preciosos escondidos atrás de tanta melancolia e frustração, o Individualista perpassa uma das travessias mais compensadoras do existir.