Ajustando atitude à demanda

Ajustanto atitude à demanda

Imagine um país com as 4 estações do ano extremamente marcadas pelas vicissitudes da natureza e uma pessoa que resolveu economizar no figurino e usar uma única roupa ao longo do ano.

Essa economia forçada de vestuário representa uma rigidez em não ceder às necessidades, esperando dar conta de todas as variações com uma só escolha.

A imagem pode parecer forçada, mas é algo corriqueiro nos conflitos interpessoais. Configura-se geralmente quando, por uma estratégia equivocada, o sujeito se fixa numa posição e espera que o em torno se adapte a ele.

Essa é uma postura que produz muitos equívocos e sofrimentos. O ser humano, diferente das demais espécies, possui o benefício da escolha e o preço das suas consequências. Chamamos isso de Consciência.

 

Formas da consciência

Há três formas de lidar com nossa consciência. Podemos chamar a primeira de Consciência Ingênua. É quando nos colocamos como sujeito, nos achando “o cara”!

A ingenuidade, tão pertinente e até encantadora da criança, passa por uma infância tardia quando encontrada em um adulto nesse estado de consciência. Em outras palavras, ao se colocar e reforçar sua posição de sujeito, ele se sente todo poderoso, independente das adversidades. Veste sua capa de super-homem, sente-se com poderes. Mas são poderes de posicionamento patéticos… Como exemplo, coloquemos esse ingênuo adulto na posição de novo chefe. Numa primeira reunião com sua equipe, ele diria: “de hoje em diante… “, como se quisesse deixar claro que, se mudou o chefe, mudou tudo.

Outras situações que evidenciam a Consciência Ingênua é a do adolescente que bebeu todas e garante que está em condição de dirigir; a do valentão da academia que pega uma quantidade de peso que a coluna não aguenta; ou a do consumista compulsivo que vai ao shopping sem casar seu desejo com sua disponibilidade financeira.

Em todos esses casos, o indivíduo pegou algo que ele está consciente de ser sua potência e a extrapolou, caindo na pretensão da Onipotência! E como onipotência não existe, o que encontramos é uma Consciência Ingênua: um sujeito que não sabe avaliar seu real poder.

De forma oposta, vamos encontrar a chamada Consciência Mágica. Quem está nesse estado se coloca como objeto e se deixa levar pela sorte, na linha do “deixa a vida me levar”.

Não significa que esta pessoa não tenha posições ou pontos de vista. Mas ela não acredita em sua capacidade de defendê-los. Assim, abdica do lugar de ação e delega à sorte, a uma grande liderança ou a Deus, a solução dos problemas.

A pessoa que se encontra nesse quadro, assim como o que está no estado de Consciência Inocente, também é dotada de uma força humana, uma potência. Contudo, apesar de possuí-la, não consegue entrar em contato com ela, negando essa capacidade e se colocando no lugar de Impotência. A ela resta apenas esperar pela mágica que venha salvá-la de circunstâncias incômodas.

As duas formas de consciência citadas formam binômios: a primeira com Sujeito (Consciência Ingênua-Sujeito) e a segunda com Objeto (Consciência Mágica – Objeto). Em outras palavras, quem está no estado de Consciência Ingênua se sente sujeito demais, sujeito de tudo. Quem está no estado de Consciência Mágica vive como objeto das circunstâncias.

Em ambas situações, uma pelo excesso e outra pela falta, somos em parte movidos pelo sentido de inadequação, indicando ausência completa de Inteligência Emocional.

Permitamo-nos, agora, analisar as situações buscando não distorcer as posições de sujeito ou objetvo, excedendo ou negando sua força. Não busquemos nem a onipotência, nem a impotência e sim a Potência – mas com direito a algumas broxadinhas, porque ninguém é de ferro.

Nesse estado de consciência, avaliamos as circunstâncias não pela lente maniqueísta do bom ou do mal e sim pela lente do adequado e inadequado.

Vamos transferir essa análise para algumas situações. Se estou sofrendo um assalto, assumir a posição de objeto não me diminui. Aliás, se puder me fingir de morto, melhor ainda! Já se estou de carona num carro conversível pela estrada, com os cabelos ao vento, não quero saber das placas e faixas! Vou é curtir as montanhas e os vales! Mas se o motorista estiver embriagado, não poderei dar-me a esse deleite e provavelmente terei que assumir a direção. E ao fazer isso, tudo fica menos complicado: é mais fácil ser sujeito quando a situação está sob meu domínio.

Em certas condições é crucial agirmos como tomadores de decisão, mesmo que sejam decisões difíceis. Elas podem nos ajudar a melhorar nossa dignidade. Terminar uma relação ou romper um contrato que pode envolver prejuízos que não consigam ser futuramente bancados, não são decisões fáceis. Mas por mais difíceis que sejam, ainda são menos custosas que a perda da dignidade.

Essa capacidade de escolher sua conduta, alternando com sensibilidade e ponderação o papel de sujeito ou objeto, faz de você um Ser Potente. Aqui não há mais a Consciência Ingênua nem Mágica. Aqui você atua na plenitude de sua Consciência Crítica, que por meio do alto poder de adaptação, cria uma altíssima estratégia de avançar sempre que possível e recuar quando necessário. Você estará poupando seus recursos por meio de estratégias humanas de funcionamento saudável e produtivo.