E eu? Qual o meu preço?
Se perguntarmos a alguém qual seu salário, quanto tem na poupança ou quanto está investindo, a resposta vai variar de acordo com o nível financeiro de cada um. Mas todos sabem quanto tem ou não tem.
E se trocarmos a pergunta? Se perguntarmos (por) quanto você vale?
Uma das questões frequentes nos consultórios de psicologia é a da autoestima. Ela pode estar exageradamente alta, quando egos avassaladores tomam conta de sua personalidade assumindo um viés onipotente de que tudo pode. Contudo, em grande parte das situações, vamos encontrar o ego se apequenando, esmagado, sofrido, negado. A baixa da autoestima maltrata, inibe, bloqueia ou até impede as escolhas e práticas do cotidiano.
Conselhos e sugestões não dão conta de reverter esses quadros que, muitas vezes, foram construídos ao longo da vida, desde o DNA. Os choques, decepções e frustrações reforçam esse esquema de crença.
Tal complexidade, a meu juízo, só pode ser enfrentada com muita Simplicidade. Aqui tenho que fazer uma confissão: sempre gostei muito da ideia da simplicidade, mas ela sozinha não me bastava.
Profunda simplicidade
Um dia, passando numa livraria, peguei um livro chamado Profunda Simplicidade, de Will Schutz. Foi arrebatador. Abracei o livro como se jamais fosse me afastar dele.
Aquelas duas palavras separadas não me chamariam atenção. A simplicidade, se tratada com superficialidade, torna-se simplória, simplista e, para mim, desinteressante. Por outro lado, a profundidade – que sempre me chamou ao longo da vida – se tornaria perigosa caso se avizinhasse do barroco, rebuscado, pesado.
Já o binômio “Profunda Simplicidade”… Ah, que sensação de completude, harmonia, equilíbrio. Fiquei encantada quando vi Walter Lima Jr. dando um exemplo que se encaixaria aqui. Ele cita o trecho da 9ª Sinfonia quando, por meio de notas repetidas naquele anúncio de tragédia, Beethoven cria uma linguagem universal. Em qualquer lugar que seja ouvida, será associada a um clima de suspense.
Foi nessa perseguição, tomando como plataforma a linguagem da profunda simplicidade, que esbarrei com Matthew Kelly em seu livro Ritmo da Vida. Ele falou do seu jeito, mas tomo-o emprestado e traduzo na minha linguagem, migrando para o meu entendimento de autoestima.
Matthew diz que o grande desafio de cada um de nós consiste em buscar o seu melhor possível. Indo além da aparente obviedade presente nessa proposta, várias questões se colocam na direção da autoestima.
“Buscar o seu melhor” é auto referido, é apostar nos seus talentos. Contudo, “buscar o seu melhor possível” envolve um reconhecimento respeitoso dos seus próprios limites. Portanto, se você olha para si apostando nos seus talentos, mas reconhecendo a limitação de seu repertório de possibilidades, pelo menos na circunstância em questão, você está no seu apogeu. Você elimina a competição com o outro e constrói uma proposta de crescimento sustentada para você.
Se parasse aí já estaria me dando por satisfeita. Mas o ser humano é a um só tempo, animal individual – a ponto de não existir outro idêntico a si mesmo – e também animal social que, inclusive, não teria sobrevivido se um outro não tivesse lhe dado qualquer forma de alimento. Um réptil é capaz de se arrastar e buscar raízes – ou lá o que seja – para comer, mas um bebê morre de inanição se não receber ajuda de outro ser.
Aqui, Matthew Kelly retorna em meu socorro, ampliando seu conceito ao acrescentar o Outro: “buscar o seu melhor possível, buscando o melhor possível do outro”.
Buscar o melhor do outro, que por si só seria muito bom, pode se tornar terrível se começo a o idealizar, a buscar nele a minha expectativa e não ele próprio. E esse outro também deverá ser capaz de reconhecer e respeitar as suas fronteiras.
Imagine uma relação na qual você explora o seu potencial respeitando seus limites e busca o melhor do outro dentro das possibilidades dele… Seria o pleno exercício de uma relação interpessoal saudável. E isso é o que mais se aproxima de uma autoestima saudável.