Negociação ganha x ganha
Se buscarmos na nossa imaginação um objeto que nos remeta ao conceito de negociação, uma das primeiras imagens que nos virá à mente certamente será uma mesa. Esse móvel há tempos se configurou como o que melhor representa nossas arenas de negociações.
Para mim, a ideia de mesa remete a outra coisa. Ela aciona conceitos como comunhão e outros elementos da ordem do Sagrado.
Se pararmos para rememorar, na mesa mais importante e sagrada da História – a da Santa Ceia – já era importante estar alerta para os jogos ocultos, cartas na manga, olhares furtivos e tramas inconfessáveis, mesmo com um fantástico anfitrião.
Pulo daquela mesa para tantas outras. Podem ser redondas, ovais, quadradas, invisíveis… Verdadeiras arenas das negociações que por vezes se confundem com negociatas.
E nas negociações com as quais nos deparamos no dia a dia, geralmente é preciso investimento. Só que nem sempre ele vem com retorno.
Entrando em negociações
O sobe e desce frenético dos interesses dos indivíduos numa negociação pode salvar ou desgraçar uma pessoa que arrisca a sorte do seu equilíbrio emocional nessa gangorra.
Para saber quanto investir numa negociação é fundamental saber quanto se tem – cada um só dá aquilo que consegue. E quem é “pobre”, quem está no ponto zero do autoconhecimento, entra numa relação com quase nada a oferecer e podendo perder ainda mais.
Se precisasse nomear esse estágio do ponto zero do autoconhecimento, eu o chamaria de “incompetência inconsciente”. É quando eu não sei e não sei que não sei. É o nosso “eu cego”.
Imagine uma abelha que pousa na nossa cabeça ou aquele famoso feijão no dente. Qualquer um pode estar vendo, menos eu!
No que se refere a comportamentos, há alguns chocantemente visíveis para uns que são ignorados por outros. Pensem naquele cara que soca a mesa gritando “eu não sou teimoso e pronto!!!”. Pois é, ele está no nível de “incompetência inconsciente”, estágio no qual a ignorância domina. Ignora-se que é preciso mudar. Ignora-se inclusive que não se possui capacidade de investimento numa relação.
Sair desse estado, só por um susto ou um feedback que coloque o sujeito frente ao espelho.
A caminhada para o estágio seguinte é uma evolução que nos promove da condição de cego para ignorante. Agora já se sabe que não sabe, já se entende que é necessário desenvolver-se para relacionar com mais qualidade. Esse é o estágio da “incompetência consciente”. Nesse ponto enfrenta-se o dilema de ter a dor e ainda não ter o remédio.
É exatamente nesse estágio que somos impulsionados a olhar para nossas deficiências e descobrir nossos talentos. É quando começamos a enxergar que, por meio deles, podemos nos desenvolver a ponto de investir sem que nos faça falta.
Alcançar esse nível exige tempo, esforço e determinação. Importante saber que não se trata de um crescimento contínuo: ele tem subidas e descidas. Mas sobretudo, tem um cuidar de si mesmo, do que se tem, e se proteger da acomodação mortífera da síndrome da Gabriela: “eu nasci assim, vou ser sempre assim”.
O estágio mais alto é o da Competência Inconsciente. Nele já conseguimos fazer o que começava no nível anterior. Mas agora flui de forma natural, automática, porque já se incorporou a uma nova maneira de ser. Já se consegue investir bastante porque de onde saiu aquilo tudo há muito mais. E nunca se perde – a “perda” gera aprendizado.
O processo terapêutico busca minimizar a dor da auto ignorância, ajudando você a se ver e ouvir.
É possível uma estratégia para a negociação ganha x ganha?
Olhando os contextos das nossas negociações, analiso que as dinâmicas desembocam em relações que podem ser classificadas em 3 tipos:
- perde x perde
- perde x ganha
- ganha x ganha
Alô Terra! Não precisamos nem nos alongar para defender a relevância do binômio ganha x ganha!
Mas vejamos como funciona… Tudo começa por A, que diz:
– Eu penso…
– Eu acho…
– Em minha opinião….
A isso chamaremos de “a tese de A”.
Eis que B pode inserir a variável:
– E se…
Pronto, desmoronou a estrutura, já que A não tinha dúvidas!
A contestação de B não é absoluta, claro, porém é desestruturante, uma vez que ela formula outra hipótese!
Dessa discussão podem surgir elementos que venham reforçar a tese de A. Ela poderá ficar mais robusta. Só não será mais a mesma!
Pode também desmontar a verdade e mudar a premissa. Qualquer resultado levará a uma síntese, que integrará A e B.
A legítima relação ganha x ganha
O ganha x ganha dessa história está no pressuposto de que essa síntese já está em transformação. Será formulada uma nova tese, que será submetida e passará por novo questionamento, evoluindo sempre, sem jamais chegar ao ponto final.
Numa relação assim, o que se busca não é o vencedor da ideia e sim a ideia vencedora.
Esse é o legítimo exercício do ganha x ganha. Uma ideia com a qual se brinca nesse magnífico encontro humano chamado Diálogo. Já pensou quantos conflitos poderiam ser evitados e/ou administrados, reduzindo danos e consequentemente aumentando o retorno, em saúde, das nossas relações?