Feng shui da nossa vida
Como psicóloga há mais de 35 anos, tenho o privilégio de viajar pelo ser humano. Picos e vales emocionais, riachos de emoções, labirintos de dúvidas, medos e angústias fazem parte de nosso trajeto. O importante é que maior do que tudo isto é a coragem e o desejo que trazem o paciente até o meu consultório. São eles que me concedem o passaporte para que, juntos, busquemos a saída para muitas dessas dores.
A viagem pelo comportamento humano na qual embarco é um desafio estimulante. Nela a Psicologia é a bússola que indica – a mim e ao paciente – rotas fantásticas nas quais evitamos alguns sofrimentos e rumamos para um destino com mais saúde.
Tenho tido a felicidade de acompanhar o esforço e os ganhos de meus pacientes. Testemunhar o crescimento, ver a superação das dores e acompanhar o processo transformador que o paciente é capaz de atingir, emociona e reforça meu amor pela clínica.
Na vida contemporânea, as demandas nem sempre se originam de tanto sofrimento. A busca pelo autoconhecimento tem inspirado muitas pessoas a mergulhar em seu íntimo e explorar a subjetividade de sua riqueza interior, permitindo reconhecer limites e expandir talentos.
Foi pensando em compartilhar experiências que decidi republicar uma série de textos que postei no LinkedIn há poucos anos. Eles tratarão dos territórios da razão, emoção e ação. De antemão, já cabe destacar a premissa da qual partimos: esses territórios não tem fronteiras definidas – elas são plásticas, elásticas e podem invadir a área do outro rapidamente.
Olhando para o nosso interior mais profundo
A busca pela saúde e pelo bem-estar foi o combustível que me moveu por toda vida. Sempre acreditei na Psicologia, no que ela oferece, para multiplicar nossa saúde.
Mas essa minha busca nunca ficou restrita apenas ao meu campo profissional. Está presente também no pessoal. Atendendo a esse chamado interior, há cerca de dez anos me aventurei nos bancos de uma faculdade de Design de Interiores.
Bem mais do que entender como usar régua e compasso, aprendi a extrair do curso o desafio de integrar o bom e o belo, em diferentes espaços.
Dos tempos dos bancos da faculdade me lembro que dentre as primeiras lições, se destacou a importância da definição de um conceito para embasar qualquer projeto. Aqui estarei ancorada no conceito do bem. A partir dele, quero desafiá-los a repaginar e ressignificar o seu ambiente interno, desobstruindo os caminhos que te impedem de alcançar a saúde e o bem-estar.
Vamos abrir a janela humana? Olhando por ela para nosso ambiente interno, como seria fazer um feng shui em nossa vida? Seríamos capazes de descer aos nossos porões, olhar para tudo que acumulamos e pensar numa repaginação de todo nosso espaço íntimo?
Feng shui da nossa vida
Se observarmos as pilhas que acumulamos, os acúmulos mais recentes estariam no topo. Para começar o feng shui da nossa vida, conseguiríamos nos desfazer de tudo – ou quase tudo – que não tem sido útil nos últimos dois anos?
Indo mais a fundo, há emoções, pessoas ou memórias que não contribuem?
Bom, pode parecer fácil quando a gente se refere a coisas. Mas nesse feng shui da vida, quando a “reorganização” é de emoções, pessoas e memórias, desapegar-se e descartar não deve ocorrer de um mero impulso. Pode existir algo muito singelo que seja uma relíquia, ainda que inútil. Pode existir uma pessoa com muitas dificuldades e complexidades, mas que nos seja preciosa.
Revisitado o acúmulo, o que ficou? Quanto espaço passamos a ter a partir de agora? Do que mantivemos, o que queremos que seja usado como decoração no nosso ambiente interno?
O espaço foi criado e agora está espanado e perfumado. É hora de redesenhá-lo.
Neste texto quis desafiá-los a ultrapassar os bloqueios que obstruem os caminhos para uma vida com saúde e bem-estar. E num primeiro movimento, podemos ser levados a acreditar que a forma mais fácil de deixar esses bloqueios para trás seria negando-os, mantendo-os nos porões. A minha proposta vai na contramão. A negação pode nos levar a recusar nossa própria história e ela, mesmo tendo ficado para trás, está presente.
Um grande começo para arejar o seu ambiente interno demanda ousadia. Olhemos para a nossa história, para a dinâmica da nossa vida e ousemos dizer: isto sim, isto não! Esse pode ser o início da mudança do nosso ambiente interno, deixando mais espaços para a simplicidade e a criatividade em nossas vidas.